Lição 12 - Livro Agenda Cristã
André Luiz - Chico Xavier
Trabalhar na construção do Reino Divino.
Esperar quando outros desesperam.
Penetrar o templo do silêncio, em meio do vozerio.
Guardar a fé, acima da tormenta de dúvidas.
Calar a tempo, de modo a não ferir.
Falar com proveito.
Ouvir o Divino Amigo em plena solidão.
Servir sem recompensa.
Suportar com valor a própria cruz.
Sofrer, aprendendo e aproveitando.
Amar sem exigências.
Ajudar em segredo.
Semear com o Cristo, desapegando-nos dos resultados.
Encontrar irmãos em toda parte.
Cultivar o prazer de ser útil.
Discernir o justo valor das causas e das coisas.
Santificar o mal.
Amparar com sinceridade os que erram.
Perdoar quantas vezes for necessário.
Superar os obstáculos.
Conservar a jovialidade e a doçura.
Sustentar o bom ânimo.
Desprender-se dos enganos do mundo, antes que o mundo nos
desengane.
Perseverar no bem até ao fim.
O Exemplo da Fonte
Um estudante da sabedoria, rogando ao seu instrutor lhe explicasse qual a melhor maneira de livrar-se do mal, foi por ele conduzido a uma fonte que deslizava, calma e cristalina, e, seguindo-lhe o curso, observou:
— Veja o exemplo da fonte, que auxilia a todos, sem perguntar, e que nunca se detém até alcançar a grande comunhão com o oceano. Junto dela crescem as plantas de toda a sorte, e em suas águas dessedentam-se animais de todos os tipos e feitios.
Enquanto caminhavam, um pequeno atirou duas pedras à corrente e as águas as engoliram em silêncio, prosseguindo para diante.
— Reparou? — disse o mentor amigo — a fonte não se insurgiu contra as pedradas. Recebeu-as com paciência e seguiu trabalhando.
Mais à frente, viram grosso canal de esgoto arremessando detritos no corpo alvo das águas, mas a corrente absorvia o lodo escuro, sem reclamações, e avançava sempre.
O professor comentou para o aprendiz:
— A fonte não se revolta contra a lama que lhe atiram à face. Recolhe-a sem gritos e transforma-a em benefícios para a terra necessitada de adubo.
Adiante ainda, notaram que, enquanto andorinhas se banhavam, lépidas, feios sapos penetravam também a corrente e pareciam felizes em alegres mergulhos.
As águas amparavam a todos sem a mínima queixa.
O bondoso mentor indicou o lindo quadro ao discípulo e terminou:
— Assinalemos o exemplo da fonte e aprenderemos a libertar-nos de qualquer cativeiro, porque, em verdade, só aqueles que marcham para diante, com o trabalho que Deus lhes confia, sem se ligarem às sugestões do mal, conseguem vencer dignamente na vida, garantindo, em favor de todos, as alegrias do Bem Eterno.
Meimei - Chico Xavier
Livro: Pai Nosso
Explicações do Mestre
Em plena conversação edificante, Sara, a esposa de Benjamim, o criador de cabras, ouvindo comentários do Mestre, nos doces entendimentos do lar de Cafarnaum, perguntou, de olhos fascinados pelas revelações novas:
— A ideia do Reino de Deus, em nossas vidas, é realmente sublime; todavia, como iniciar-
me nela? Temos ouvido as pregações à beira do lago e sabemos que a Boa Nova aconselha, acima de tudo, o amor e o perdão... Eu desejaria ser fiel a semelhantes princípios, mas sinto-me presa a velhas normas. Não consigo desculpar os que me ofendem, não entendo uma vida em que troquemos nossas vantagens pelos interesses dos outros, sou apegada aos meus bens e ciumenta de tudo o que aceito como sendo propriedade minha.
A dama confessava-se com simplicidade, não obstante o sorriso desapontado de quem
encontra obstáculos quase invencíveis.
— Para isso — comentou Pedro —, é indispensável a boa-vontade.
— Com a fé em Nosso Pai Celestial — aventurou a esposa de Simão —, atravessaremos
os tropeços mais duros.
Em todos os presentes transparecia ansiosa expectativa quanto ao pronunciamento do
Senhor, que falou, em seguida a longo silêncio:
— Sara, qual é o serviço fundamental de tua casa?
— É a criação de cabras — redargüiu a interpelada, curiosa.
— Como procedes para conservar o leite inalterado e puro no benefício doméstico?
— Senhor, antes de qualquer providência, é imprescindível lavar, cautelosamente, o vaso
em que ele será depositado. Se qualquer detrito ficar na ânfora, em breve todo o leite se toca de franco azedume e já não servirá para os serviços mais delicados.
Jesus sorriu e explanou:
— Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não purificamos o vaso da alma,
o conhecimento, não obstante superior, se confunde com as sujidades de nosso íntimo, como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens que poderíamos recolher. Em verdade, Moisés e os Profetas foram valorosos portadores de mensagens divinas, mas os descendentes do Povo Escolhido não purificaram suficientemente o receptáculo vivo do espírito para recebê-las.
É por isto que os nossos contemporâneos são justos e injustos, crentes e incrédulos, bons e maus ao mesmo tempo. O leite puro dos esclarecimentos elevados penetra o coração como alimento novo, mas aí se mistura com a ferrugem do egoísmo velho. Do serviço renovador da alma restará, então, o vinagre da incompreensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de Deus.
A pequena assembleia, na sala de Pedro, recebia a lição sublime e singela, comovidamente, sem qualquer interferência verbal.
O Mestre, porém, levantando-se com discrição e humildade, afagou os cabelos da senhora
que o interpelara e concluiu, generoso:
— O orvalho num lírio alvo é diamante celeste, mas, na poeira da estrada, é gota lamacenta.
Não te esqueças desta verdade simples e clara da Natureza.
Livro: Jesus no Lar
Néio Lúcio - Chico Xavier
O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO
1. Bem-aventurados os
que choram, pois que
serão consolados. –
Bem-aventurados os famintos
e os sequiosos de
justiça, pois que serão saciados.
– Bem-aventurados os
que sofrem perseguição
pela justiça, pois
que é deles o reino dos
céus. (S. MATEUS,
5:4, 6 e 10.)
2. Bem-aventurados
vós, que sois pobres, porque
vosso é o reino dos
céus. – Bem-aventurados
vós, que agora tendes
fome, porque sereis
saciados. – Ditosos
sois, vós que agora chorais,
porque rireis. (S.
LUCAS, 6:20 e 21.)
Mas, ai de vós,
ricos! que tendes no mundo a
vossa consolação. –
Ai de vós que estais saciados,
porque tereis fome. –
Ai de vós que agora
rides, porque sereis
constrangidos a gemer e a chorar.
(S. LUCAS, 6:24 e
25.)
A Razão da Dor
Raquel, antiga servidora da residência de Cusa, ergueu a voz para indagar do Mestre por
que motivo a dor se convertia em aflição nos caminhos do mundo.
Não era o homem criação de Deus? Não dispõe a criatura do abençoado concurso dos
anjos? Não vela o Céu sobre os destinos da Humanidade?
Jesus fitou na interlocutora o olhar firme e considerou:
— A razão da dor humana procede da proteção divina. Os povos são famílias de Deus
que, à maneira de grandes rebanhos, são chamados ao Aprisco do Alto. A Terra é o caminho.A luta que ensina e edifica é a marcha. O sofrimento é sempre o aguilhão que desperta as ovelhas distraídas à margem da senda verdadeira.
Alguns instantes se escoaram mudos e o Mestre voltou a ponderar:
— O excesso de poder favorece o abuso, a demasia de conforto, não raro, traz o relaxamento, e o pão que se amontoa, de sobra, costuma servir de pasto aos vermes que se alegram no mofo...
Reparando, porém, que a assembleia de amigos lhe reclamava explicação mais ampla, elucidou fraternalmente:
— Um anjo, por ordem do Eterno Pai, tomou à própria conta um homem comum, desde
o nascimento. Ensinou-lhe a alimentar-se, a mover os membros e os músculos, a sorrir, a repousar e a asilar-se nos braços maternos. Sem afastar-se do protegido, dia e noite, deu-lhe as primeiras lições da palavra e, em seguida, orientou-lhe os impulsos novos, favorecendo-lhe o ensejo de aprender a raciocinar, a ler, a escrever e a contar. Afastava-o, hora a hora, de influências perniciosas ou mortíferas de Espíritos infelizes que o arrebatariam, por certo para o sorvedouro da morte. Soprando-lhe ao pensamento ideias iluminadas aos clarões do Infinito Bem, através de mil modos de socorro imperceptível, garantiu-lhe a saúde e o equilíbrio do corpo.
Dava-lhe medicamentos invisíveis, por intermédio do ar e da água, da vestimenta e das plantas. Vezes sem conta, salvou-o do erro, do crime e dos males sem remédio que atormentam os pecadores. Ao amanhecer, o Pajem Celestial acorria, atento, preparando-lhe dia calmo e proveitoso, defendendo-lhe a respiração, a alimentação e o pensamento, vigiando-lhe os passos, com amor, para melhor preservar-lhe os dons; ao anoitecer, postava-se-lhe à cabeceira, amparando-lhe o corpo contra o ataque de genios infernais, aguardando-o, com maternal cuidado, para as doces instruções espirituais nos momentos de sono. No transcurso da vida, guiou-lhe os ideais, auxiliou-o a selecionar as emoções e a situar-se em trabalho digno e respeitável; clareou-lhe o cérebro jovem, insuflou-lhe entusiasmo santo, rumo à vida superior, e estimulou-o a formar um reino de santificação e serviço, progresso e aperfeiçoamento, num lar... O homem, todavia, que nunca se lembrara de agradecer as bênçãos que o cercavam, fez-se orgulhoso e cruel, diante dos interesses alheios. Ele, que retinha tamanhas graças do Céu, jamais se animou a estendê-las a Terra e passou simplesmente a humilhar os outros com a glória de que fora revestido por seu devotado e invisível benfeitor. Quando experimentou o primeiro desgosto,
que ele mesmo provocou menosprezando a lei do amor universal, que determina a fraternidade e o respeito aos semelhantes, gesticulou, revoltado, contra o Céu, acusando o Supremo Senhor de injusto e indiferente. Aflito, o anjo guardião procurava levantar-lhe o ideal de bondade, quando um Anjo Maior se aproximou dele e ordenou que o primeiro dissabor do tutelado endurecido por excesso de regalias se convertesse em aflição. Rolando, mentalmente, de aflição em aflição, o homem começou a recolher os valores da paciência, da humildade, do amor e da paz com todos, fazendo-se, então, precioso colaborador do Pai, na Criação.
Néio Lúcio - Chico Xavier
Livro: Jesus no Lar
OS
MENSAGEIROS DISTRAÍDOS
Os
ouvintes do culto da Boa Nova discorriam sobre as polêmicas que se travavam
incessantemente em torno da fé, nos círculos do farisaísmo de várias escolas,
quando o Cristo, dentro da profunda simplicidade que lhe era característica,
narrou, tolerante:
—
Um grande senhor recebeu alarmantes notícias de vasto agrupamento de servos, em
zona distante da sede do seu governo, que se viam fustigados por febre maligna,
e, desejoso de socorrer os tutelados que sofriam na região remota de seus
domínios, enviou-lhes mensageiros de confiança, conduzindo remédios adequados à
situação e providências alusivas ao reajustamento geral.
Os
emissários saíram do palácio com grandes promessas de trabalho, segurança e
eficiência na missão; todavia, assim que se viram fora das portas do senhor,
começaram a rixar pela escolha dos caminhos.
Uns
reclamavam o atalho, outros a planície sem espinheiros e outros, ainda, pediam
a passagem através dos montes.
Longos
dias perderam na disputa, até que o grupo se desuniu, cada falange atendendo aos
próprios caprichos, com absoluto esquecimento do objetivo fundamental.
As
dificuldades, porém, não foram solucionadas com decisão. Criados os roteiros
diferentes, como que se dilataram os conflitos. Reduzidas agora, numericamente,
as expedições sofreram, com mais rigor, os golpes esterilizantes das opiniões
pessoais. Os viajantes não cuidavam senão de inventar novos motivos para o
atrito inútil. Entre os que marchavam pelo trilho
mais
curto, pela vargem e pela serra lavraram discussões improdutivas, contundentes
e intermináveis. Dias e noites preciosos eram desprendidos em comentários
ruidosos quanto à febre, quanto à condição dos enfermos ou quanto às paisagens
em torno. Horas difíceis de amargura e desarmonia, de momento a momento,
interrompiam a viagem, sendo a muito custo evitadas as cenas de pugilato e
homicídio.
Surgiram
as contendas, a propósito de mínimas questões, com pleno desperdício da
oportunidade, e, em razão disso, tanto se atrasaram os viajores do atalho,
quanto os da planície e do monte, de vez que se encontraram no vale da peste a
um só tempo, com enorme e irremediável desapontamento para todos, porquanto, à
míngua do prometido recurso, não sobrara nenhum doente vivo na carne.
A
morte devorara-os, um a um, enquanto os mensageiros discutidores matavam o
tempo, através da viagem.
O
Mestre fixou nos aprendizes o olhar muito lúcido e aduziu:
—
Neste símbolo, temos o mundo atacado pela peste da maldade e da descrença e
vemos o retrato dos portadores da medicação celeste, que são os religiosos de
todos os matizes, que falam na Terra, em nome do Pai. Os homens iluminados pela
sabedoria da fé, entretanto, apesar de haverem recebido valiosos recursos do
Céu para os que sofrem e choram, em consequência da ignorância e da aflição
dominantes no mundo, olvidam as obrigações que lhes assinalam a vida e,
sobrepondo os próprios caprichos aos propósitos do Supremo Senhor, se desmandam
em desvarios verbais de toda espécie. Enquanto alimentam o distúrbio, levianos
e distraídos, os necessitados de luz e socorro desfalecem à falta de
assistência e dedicação.
E
afagando uma das crianças presentes, qual se concentrasse todas as esperanças
no sublime futuro, finalizou, sorridente e calmo:
—
A discussão, por mais proveitosa, nunca deve distrair-nos do serviço que o
Senhor nos deu a fazer.
O talismã divino
Entabularam os familiares interessante palestra, acerca das faculdades sublimes de que o
Mestre dava testemunho amplo, curando loucos e cegos, quando Isabel, a zelosa genitora de João e Tiago, indagou, sem preâmbulos:
— Senhor, terás contigo algum talismã de cuja virtude possamos desfrutar? Algum objeto
mágico que nos possa favorecer?
Jesus pousou na matrona os olhos penetrantes e falou, risonho:
— Realmente, conheço um talismã de maravilhoso poder. Usando-lhe os milagrosos recursos, é possível iniciar a aquisição de todos os dons de Nosso Pai. Oferece a descoberta dos tesouros do amor que resplandecem ao redor de nós, sem que lhes vejamos, de pronto, a grandeza.
Descortina o entendimento, onde a desarmonia castiga os corações. Abre a porta às revelações da arte e da ciência. Estende possibilidades de luminosa comunhão com as fontes divinas da vida. Convida à bênção da meditação nas coisas sagradas. Reata relações de companheiros em discordância. Descerra passagens de luz aos espíritos que se demoram nas sombras. Permite abençoadas sementeiras de alegria. Reveste-se de mil oportunidades de paz com todos. Indica vasta rede de trilhos para o trabalho salutar. Revela mil modos de enriquecer a vida que vivemos. Facilita o acesso da alma ao pensamento dos grandes mestres. Dá comunicações com os mananciais celestes da intuição.
— Que mais? — disse o Senhor, imprimindo ênfase à pergunta.
E após sorrir, complacente, continuou:
— Sem esse divino talismã, é impossível começar qualquer obra de luz e paz na Terra.
Os olhos dos ouvintes permutavam expressões de assombro, quando a esposa de Zebedeu inquiriu, espantada:
— Mestre, onde poderemos adquirir semelhante bênção? Dize-nos. Precisamos desse
acumulador de felicidade.
O Cristo, então, acrescentou, bem-humorado:
— Esse bendito talismã, Isabel, é propriedade comum a todos. É “a hora que estamos atravessando”... Cada minuto de nossa alma permanece revestido de prodigioso poder oculto, quando sabemos usá-lo no Infinito Bem, porque toda grandeza e toda decadência, toda vitória e toda ruína são iniciadas com a colaboração do dia.
E diante da perplexidade de todos, rematou:
— O tempo é o divino talismã que devemos aproveitar.
Livro: Jesus no Lar
Néio Lúcio - Chico Xavier
A BENEFICÊNCIA
A beneficência, meus
amigos, dar-vos-á nesse mundo
os mais puros e suaves
deleites, as alegrias do coração, que
nem o remorso, nem a
indiferença perturbam. Oh! Pudésseis
compreender tudo o que
de grande e de agradável encerra a
generosidade das almas
belas, sentimento que faz olhe a
criatura as outras como
olha a si mesma, e se dispa, jubilosa,
para vestir o seu irmão!
Pudésseis, meus amigos, ter por
única ocupação tornar
felizes os outros! Quais as festas
mundanas que podereis
comparar às que celebrais quando,
como representantes da
Divindade, levais a alegria a essas
famílias que da vida
apenas conhecem as vicissitudes e as
amarguras, quando vedes
nelas os semblantes macerados
refulgirem subitamente
de esperança, porque, faltos de pão,
os desgraçados ouviam
seus filhinhos, ignorantes de que
viver é sofrer, gritando
repetidamente, a chorar, estas palavras,
que, como agudo punhal,
se lhes enterravam nos corações
maternos: “Estou com
fome!...” Oh! compreendei
quão deliciosas são as
impressões que recebe aquele que vê
renascer a alegria onde,
um momento antes, só havia desespero!
Compreendei as
obrigações que tendes para com
os vossos irmãos! Ide,
ide ao encontro do infortúnio; ide em
socorro, sobretudo, das
misérias ocultas, por serem as mais
dolorosas! Ide, meus
bem-amados, e tende em mente estas
palavras do Salvador:
“Quando vestirdes a um destes pequeninos,
lembrai-vos de que é a
mim que o fazeis!”
Caridade! Sublime
palavra que sintetiza todas as virtudes,
és tu que hás de
conduzir os povos à felicidade. Praticando-
te, criarão eles para si
infinitos gozos no futuro e,
enquanto se acharem
exilados na Terra, tu lhes serás a
consolação, o prelibar
das alegrias de que fruirão mais tarde,
quando se encontrarem
reunidos no seio do Deus de
amor. Foste tu, virtude
divina, que me proporcionaste os
únicos momentos de
satisfação de que gozei na Terra. Que
os meus irmãos encarnados
creiam na palavra do amigo
que lhes fala,
dizendo-lhes: É na caridade que deveis procurar
a paz do coração, o
contentamento da alma, o remédio
para as aflições da
vida. Oh! quando estiverdes a ponto
de acusar a Deus, lançai
um olhar para baixo de vós; vede
que de misérias a
aliviar, que de pobres crianças sem família,
que de velhos sem
qualquer mão amiga que os ampare
e lhes feche os olhos
quando a morte os reclame! Quanto
bem a fazer! Oh! não vos
queixeis; ao contrário, agradecei a
Deus e prodigalizai a
mancheias a vossa simpatia, o vosso
amor, o vosso dinheiro
por todos os que, deserdados dos
bens desse mundo,
enlanguescem na dor e no insulamento!
Colhereis nesse mundo
bem doces alegrias e, mais tarde...
só Deus o sabe!... –
Adolfo, bispo de Argel. (Bordéus, 1861.)
NÃO VIM TRAZER A PAZ, MAS, A DIVISÃO
17. O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas
do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir
os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o
egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais,
levados às suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o
caminho e lhe suscitam entraves e perseguições. Também
ele, portanto, tem de combater; mas, o tempo das lutas e
das perseguições sanguinolentas passou; são todas de ordem
moral as que terá de sofrer e próximo lhes está o termo.
As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas
alguns anos, porque a luz, em vez de partir de um único
foco, irrompe de todos os pontos do Globo e abrirá mais de
pronto os olhos aos cegos.
PARÁBOLA DO MAU RICO
Havia um homem rico, que vestia púrpura e
linho e se tratava magnificamente todos os dias.
– Havia também um pobre, chamado Lázaro, deitado
à sua porta, todo coberto de úlceras – que
muito estimaria poder mitigar a fome com as migalhas
que caíam da mesa do rico; mas ninguém
lhas dava e os cães lhe vinham lamber as chagas.
– Ora, aconteceu que esse pobre morreu e foi
levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico
também morreu e teve por sepulcro o inferno. –
Quando se achava nos tormentos, levantou os
olhos e viu de longe Abraão e Lázaro em seu seio
– e, exclamando, disse estas palavras: Pai Abraão,
tem piedade de mim e manda-me Lázaro, a fim de
que molhe a ponta do dedo na água para me refrescar
a língua, pois sofro horrível tormento nestas
chamas.
Mas Abraão lhe respondeu: Meu filho, lembra-te
de que recebeste em vida teus bens e de que
Lázaro só teve males; por isso, ele agora está na
consolação e tu nos tormentos.
Ao demais, existe para sempre um grande
abismo entre nós e vós, de sorte que os que queiram
passar daqui para aí não o podem, como
também ninguém pode passar do lugar onde
estás para aqui.
Disse o rico: Eu então te suplico, pai Abraão,
que o mandes à casa de meu pai – onde tenho
cinco irmãos, a dar-lhes testemunho destas coisas,
a fim de que não venham também eles para
este lugar de tormento. – Abraão lhe retrucou: Eles
têm Moisés e os profetas; que os escutem. – Não,
meu pai Abraão, disse o rico: se algum dos mortos
for ter com eles, farão penitência. – Respondeu-
lhe Abraão: Se eles não ouvem a Moisés, nem
aos profetas, também não acreditarão, ainda
mesmo que algum dos mortos ressuscite.
(S. LUCAS, 16:19 a 31.)
NÃO VIM DESTRUIR A LEI
O CRISTO
3. Jesus não veio destruir a lei, isto é, a lei de Deus; veio
cumpri-la, isto é, desenvolvê-la, dar-lhe o verdadeiro sentido
e adaptá-la ao grau de adiantamento dos homens. Por
isso, é que se nos depara, nessa lei, o princípio dos deveres
para com Deus e para com o próximo, base da sua doutrina.
Quanto às leis de Moisés, propriamente ditas, ele, ao
contrário, as modificou profundamente, quer na substância,
quer na forma. Combatendo constantemente o abuso
das práticas exteriores e as falsas interpretações, por mais
radical reforma não podia fazê-las passar, do que as reduzindo
a esta única prescrição: “Amar a Deus acima de todas
as coisas e o próximo como a si mesmo”, e acrescentando:
aí estão a lei toda e os profetas.
Por estas palavras: “O céu e a Terra não passarão sem
que tudo esteja cumprido até o último iota”, quis dizer Jesus
ser necessário que a lei de Deus tivesse cumprimento
integral, isto é, fosse praticada na Terra inteira, em toda a
sua pureza, com todas as suas ampliações e consequências.
Efetivamente, de que serviria haver sido promulgada
aquela lei, se ela devesse constituir privilégio de alguns
homens, ou, sequer, de um único povo? Sendo filhos de
Deus todos os homens, todos, sem distinção nenhuma, são
objeto da mesma solicitude.
4. Mas, o papel de Jesus não foi o de um simples legislador
moralista, tendo por exclusiva autoridade a sua palavra.
Cabia-lhe dar cumprimento às profecias que lhe anunciaram
o advento; a autoridade lhe vinha da natureza excepcional
do seu Espírito e da sua missão divina. Ele viera ensinar
aos homens que a verdadeira vida não é a que transcorre
na Terra e sim a que é vivida no reino dos céus; viera ensinar-
lhes o caminho que a esse reino conduz, os meios de
eles se reconciliarem com Deus e de pressentirem esses
meios na marcha das coisas por vir, para a realização dos
destinos humanos. Entretanto, não disse tudo, limitando-se,
respeito a muitos pontos, a lançar o gérmen de verdades
que, segundo ele próprio o declarou, ainda não podiam ser
compreendidas. Falou de tudo, mas em termos mais ou
menos implícitos. Para ser apreendido o sentido oculto de
algumas palavras suas, mister se fazia que novas ideias e
novos conhecimentos lhes trouxessem a chave indispensável,
ideias que, porém, não podiam surgir antes que o espírito
humano houvesse alcançado um certo grau de madureza.
A Ciência tinha de contribuir poderosamente para a
eclosão e o desenvolvimento de tais ideias. Importava, pois,
dar à Ciência tempo para progredir.
DEIXAI QUE VENHAM A MIM AS CRIANCINHAS
18. Disse o Cristo: “Deixai que venham a mim as criancinhas.”
Profundas em sua simplicidade, essas palavras não
continham um simples chamamento dirigido às crianças,
mas, também, o das almas que gravitam nas regiões inferiores,
onde o infortúnio desconhece a esperança. Jesus
chamava a si a infância intelectual da criatura formada: os
fracos, os escravizados e os viciosos. Ele nada podia ensinar
à infância física, presa à matéria, submetida ao jugo do
instinto, ainda não incluída na categoria superior da razão
e da vontade que se exercem em torno dela e por ela.
Queria que os homens a ele fossem com a confiança
daqueles entezinhos de passos vacilantes, cujo chamamento
conquistava, para o seu, o coração das mulheres, que são
todas mães. Submetia assim as almas à sua terna e misteriosa
autoridade. Ele foi o facho que ilumina as trevas, a
claridade matinal que toca a despertar; foi o iniciador do
Espiritismo, que a seu turno atrairá para ele, não as criancinhas,
mas os homens de boa vontade. Está empenhada a
ação viril; já não se trata de crer instintivamente, nem de
obedecer maquinalmente; é preciso que o homem siga a lei
inteligente que se lhe revela na sua universalidade.
Meus bem-amados, são chegados os tempos em que,
explicados, os erros se tornarão verdades. Ensinar-vos-emos
o sentido exato das parábolas e vos mostraremos a forte
correlação que existe entre o que foi e o que é. Digo-vos, em
verdade: a manifestação espírita avulta no horizonte, e aqui
está o seu enviado, que vai resplandecer como o Sol no
cume dos montes. – João Evangelista. (Paris, 1863.)
27/03/2015
REUNIÕES ESPÍRITAS
4. Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas
reunidas em meu nome, eu com elas estarei. (S. MATEUS,
18:20.)
5. PREFÁCIO.
Estarem reunidas,
em nome de Jesus, duas, três ou
mais pessoas, não quer dizer que basta se achem
materialmente
juntas. É preciso que o estejam espiritualmente, em
comunhão
de intentos e de ideias, para o bem. Jesus, então, ou os
Espíritos
puros, que o representam, se encontrarão na assembleia. O
Espiritismo
nos faz compreender como podem os Espíritos achar-se
entre nós. Comparecem com seu corpo fluídico ou espiritual
e
sob a aparência que nos levaria a reconhecê-los, se se
tornassem
visíveis. Quanto mais elevados são na hierarquia
espiritual, tanto
maior é neles o poder de irradiação. É assim que possuem
o
dom da ubiquidade e que podem estar simultaneamente em
mui-
tos lugares, bastando para isso que enviem a cada um
desses
lugares um raio de suas mentes.
Dizendo as palavras acima transcritas, quis Jesus revelar
o
efeito da união e da fraternidade. O que o atrai não é o
maior ou
menor número de pessoas que se reúnam, pois, em vez de
duas
ou três, houvera ele podido dizer dez ou vinte, mas o
sentimento
de caridade que reciprocamente as anime. Ora, para isso,
basta
que elas sejam duas. Contudo, se essas duas pessoas oram
cada
uma por seu lado, embora dirigindo-se ambas a Jesus, não
há
entre elas comunhão de pensamentos, sobretudo se ali não
estão
sob o influxo de um sentimento de mútua benevolência. Se
se
olham com prevenção, com ódio, inveja ou ciúme, as
correntes
fluídicas de seus pensamentos, longe de se conjugarem por
um
comum impulso de simpatia, repelem-se. Nesse caso, não
estarão
reunidas em nome de Jesus, que, então, não passa de
pretexto
para a reunião, não o tendo esta por verdadeiro motivo.
(Cap.
XXVII, nº 9.)
Isso não significa que ele se mostre surdo ao que lhe
diga
uma única pessoa; e se ele não disse: “Atenderei a todo
aquele
que me chamar”, é que, antes de tudo, exige o amor do
próximo;
e desse amor mais provas podem dar-se quando são muitos
os
que exoram, com exclusão de todo sentimento pessoal, e
não um
apenas. Segue-se que, se, numa assembleia numerosa,
somente
duas ou três pessoas se unem de coração, pelo sentimento
de
verdadeira caridade, enquanto as outras se isolam e se
concentram
em pensamentos egoísticos ou mundanos, ele estará com
as primeiras e não com as outras. Não é, pois, a
simultaneidade
das palavras, dos cânticos ou dos atos exteriores que
constitui a
reunião em nome de Jesus, mas a comunhão de pensamentos,
em concordância com o espírito de caridade que ele
personifica.
Tal o caráter de que devem revestir-se as reuniões
espíritas
sérias, aquelas em que sinceramente se deseja o concurso
dos bons Espíritos.
MISSÃO DOS ESPÍRITAS
Não escutais já o
ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o
conjunto das iniquidades terrenas?
Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé na
sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas
vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos
Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas
provas terrestres.
Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as
vossas cabeças.
Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!...
sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra
divina.
É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação
os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e
pregai.
Convosco estão os Espíritos elevados.
Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a
voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o
desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos,
como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister
regueis com os vossos
suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não
frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da
charrua evangélicas. Ide e pregai!
Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa inferioridade
em face dos mundos disseminados pelo Infinito!...lançai-vos em cruzada contra a
injustiça e a iniquidade.
Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada dia
mais se alastra.
Ide, Deus vos
guia! Homens simples e ignorantes, vossas línguas se soltarão e falareis como
nenhum orador fala. Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas
as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e de paz.
Que importam as emboscadas que vos armem pelo caminho!
Somente lobos caem em armadilhas para lobos, porquanto o
pastor saberá defender suas ovelhas das fogueiras imoladoras.
Ide, homens, que, grandes diante de Deus, mais ditosos do
que Tomé, credes sem fazerdes questão de ver e aceitais os fatos da
mediunidade, mesmo quando não tenhais conseguido obtê-los por vós mesmos; ide,
o Espírito de Deus vos conduz.
Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé!
Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se
dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios-do-Sol nascente.
A fé é a virtude que desloca montanhas, disse Jesus.
Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados
nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza.
Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniquidades que
as futuras gerações só deverão conhecer como lenda, do mesmo modo que vós, que
só muito imperfeitamente conheceis os tempos que antecederam a civilização pagã.
Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões
morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre
os dois mundos.
Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão,
aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão;
porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis
fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a
santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças
pelas aflições que a Terra lhes destina.
Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra!
o arado está pronto; a terra espera; arai!
Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou;
mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram;
reparai, pois, vosso caminho
e segui a verdade.
Pergunta. – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos
se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no
bom caminho?
Resposta. – Reconhecê-los-eis pelos princípios da
verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo
número de aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao
próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis,
finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua
lei; os que seguem Sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória;
mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau
para contentar sua vaidade e sua ambição.
Erasto, anjo da guarda
do médium -Paris, 1863.
VERDADEIRA PUREZA. – MÃOS NÃO LAVADAS
8. Então os escribas e os fariseus, que tinham vindo de
Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Por que violam os teus
discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam
as mãos quando fazem suas refeições?”
Jesus lhes respondeu:
“Por que violais vós outros o mandamento de Deus, para
seguir a vossa
tradição? Porque Deus pôs este mandamento: Honrai a vosso
pai e a vossa mãe; e este outro: Seja punido de morte aquele que disser a seu
pai ou a sua mãe palavras ultrajantes; e vós outros, no
entanto, dizeis: Aquele que haja dito a seu pai ou a sua mãe: – Toda oferenda
que faço
a Deus vos é proveitosa, satisfaz à lei – ainda que
depois não honre, nem assista a seu pai ou a sua mãe. Tornam assim inútil o
mandamento
de Deus, pela vossa tradição.
Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías, quando disse:
Este povo me honra de lábios, mas conserva longe de mim o coração; é em vão
que me honram ensinando máximas e ordenações humanas.”
Depois, tendo chamado o povo, disse: “Escutai e
compreendei bem isto: – Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai
da boca do
homem é que o macula. – O que sai da boca procede do
coração e é o que torna impuro o homem; – porquanto do coração é que partem os
maus
pensamentos, os assassínios, os adultérios, as
fornicações, os latrocínios, os falsos-testemunhos, as blasfêmias e as
maledicências. – Essas são as coisas que tornam impuro o homem; o comer sem
haver lavado as mãos não é o que o torna impuro.” Então, aproximando-se dele,
disseram-lhe
seus discípulos: “Sabeis que, ouvindo o que acabais de
dizer, os fariseus se escandalizaram?”
– Ele, porém, respondeu: “Arrancada será toda planta que
meu Pai celestial não plantou. – Deixai-os, são cegos que conduzem cegos; se um
cego conduz outro, caem ambos no fosso.”
(S. MATEUS, 15:1 a 20.)
9. Enquanto ele falava, um fariseu lhe pediu que fosse
jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à mesa. – O fariseu entrou então
a dizer
consigo mesmo: “Por que não lavou ele as mãos antes de
jantar?” Disse-lhe, porém, o Senhor: “Vós outros, fariseus, pondes grande
cuidado em
limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior
dos vossos corações está cheio de rapinas e de iniquidades. Insensatos que
sois! Aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?”
(S. LUCAS, 11:37 a 40.)
21/02/2015
BENEFÍCIOS PAGOS COM A INGRATIDÃO
Que se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em
paga de benefícios que fizeram, deixam de praticar o bem
para não topar com os ingratos?
Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem, apenas para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito
desinteressadamente, é o único agradável a Deus.
Há também orgulho, porquanto os que assim procedem se comprazem na humildade com que o beneficiado lhes vem depor aos pés o testemunho do seu reconhecimento.
Aquele que procura, na Terra, recompensa ao bem que pratica não a receberá no céu.
Deus, entretanto, terá em apreço aquele que não a busca no mundo.
Deveis sempre ajudar os fracos, embora sabendo de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão.
Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse pago.
Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é para experimentar a vossa perseverança em praticar o bem.
E sabeis, porventura, se o benefício momentaneamente esquecido não produzirá mais tarde bons frutos? Tende a certeza de que, ao contrário, é uma semente que com o
tempo germinará. Infelizmente, nunca vedes senão o presente; trabalhais para vós e não pelos outros. Os benefícios acabam por abrandar os mais empedernidos corações; podem
ser olvidados neste mundo, mas, quando se desembaraçar do seu envoltório carnal, o Espírito que os recebeu se lembrará deles e essa lembrança será o seu castigo.
Deplorará a sua ingratidão; desejará reparar a falta, pagar a dívida noutra existência, não raro buscando uma vida de dedicação ao seu benfeitor. Assim, sem o suspeitardes, tereis
contribuído para o seu adiantamento moral e vireis a reconhecer a exatidão desta máxima: um benefício jamais se perde. Além disso, também por vós mesmos tereis trabalhado, porquanto granjeareis o mérito de haver feito o bem desinteressadamente e sem que as decepções vos desanimassem.
Ah! meus amigos, se conhecêsseis todos os laços que prendem a vossa vida atual às vossas existências anteriores; se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade
das relações que ligam uns aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo, admiraríeis muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que vos concede reviver para
chegardes a ele.
Guia protetor - Sens, 1862
17/12/2015
OS BONS ESPÍRITAS
Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois
que um o mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e
esclarecida aos que duvidam ou vacilam.
Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as consequências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si
mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina?
Não, pois que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a
força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo.
Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum?
Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas saídos da adolescência, lhes apreendem, com admirável precisão, os mais delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim
dizer material da ciência somente requer olhos que observem, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do senso
moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução, porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado.
Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes a visão do infinito,
donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores, nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo de que são dotados.
Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas. Numa palavra: não divisam mais do que um raio de luz, insuficiente a guiá-los e a lhes facultar uma vigorosa aspiração, capaz de lhes sobrepujar as inclinações. Atêm-se mais aos fenômenos do que à moral, que se lhes afigura cediça e
monótona. Pedem aos Espíritos que incessantemente os iniciem em novos mistérios, sem procurar saber se já se tornaram dignos de penetrar os arcanos do Criador.
Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. Contudo, a aceitação do princípio da doutrina é um primeiro passo que lhes tornará
mais fácil o segundo, noutra existência.
Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais
completo a matéria, dá-lhe uma percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes.
Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico
que alguns acordes bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons.
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende alguma coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o consegue, se tem firme a vontade.
16/02/2015
A PIEDADE
A piedade é a
virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a
Deus. Ah! Deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias
e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas
lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e,
quando, por bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar a esperança e a
resignação, que encanto não experimentais!
Tem um certo amargor, é certo, esse encanto, porque nasce
ao lado da desgraça; mas, não tendo o
sabor acre dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio
que estes últimos deixam após si. Envolve-
o penetrante suavidade que enche de júbilo a alma. A piedade,
a piedade bem sentida é amor; amor é devotamento; devotamento é o olvido de si
mesmo e esse olvido, essa abnegação em favor dos desgraçados, é a virtude por
excelência, a que em toda a sua vida praticou o divino Messias e ensinou na sua
doutrina tão santa e tão sublime.
Quando esta doutrina for restabelecida na sua pureza primitiva,
quando todos os povos se lhe submeterem, ela tornará feliz a Terra, fazendo que
reinem aí a concórdia, a paz e o amor.
O sentimento mais apropriado a fazer que progridais, domando
em vós o egoísmo e o orgulho, aquele que dispõe vossa alma à humildade, à
beneficência e ao amor do próximo, é a piedade! piedade que vos comove até às
entranhas
à vista dos sofrimentos de vossos irmãos, que vos impele
a lhes estender a mão para socorrê-los e vos arranca lágrimas de simpatia.
Nunca, portanto, abafeis nos vossos corações essas emoções celestes; não
procedais como esses egoístas endurecidos que se afastam dos aflitos, porque o
espetáculo de suas misérias lhes perturbaria por instantes a existência álacre.
Temei conservar-vos indiferentes, quando puderdes ser úteis. A tranquilidade
comprada à custa de uma indiferença culposa é a tranquilidade do mar Morto, no
fundo de cujas águas se escondem a vasa fétida e a corrupção.
Quão longe, no entanto, se acha a piedade de causar o distúrbio
e o aborrecimento de que se arreceia o egoísta!
Sem dúvida, ao contacto da desgraça de outrem, a alma, voltando-se
para si mesma, experimenta um confrangimento natural e profundo, que põe em
vibração todo o ser e o abala penosamente. Grande, porém, é a compensação,
quando chegais a dar coragem e esperança a um irmão infeliz que se enternece ao
aperto de uma mão amiga e cujo olhar,húmido, por vezes, de emoção e de
reconhecimento, para vós se dirige docemente, antes de se fixar no Céu em
agradecimento por lhe ter enviado um consolador, um amparo.
A piedade é o melancólico, mas celeste precursor da
caridade, primeira das virtudes que a tem por irmã e cujos benefícios ela
prepara e enobrece.
Miguel - Bordéus,
1862.
14/02/2015
BEM E MAL SOFRER
Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os
aflitos, o reino dos céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que
sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem
tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos
compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de
Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte
coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é preciso tenha
por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele já muitas vezes vos disse que não
coloca fardos pesados em ombros fracos.
O fardo é proporcionado às
forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a
recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso
que a vida se apresenta cheia de tribulações.
O militar que não é
mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no campo
nenhuma ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o militar e não
desejeis um repouso em que o vosso corpo se enervaria e se entorpeceria a vossa
alma. Alegrai-vos, quando Deus vos enviar para a luta. Não consiste esta no
fogo da batalha, mas nos amargores da vida, onde, às vezes, de mais coragem se
há mister do que num combate sangrento, porquanto não é raro que aquele que se
mantém firme em presença do inimigo fraqueje nas tenazes de uma pena moral.
Nenhuma recompensa obtém o homem por essa espécie de coragem; mas, Deus lhe
reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa. Quando vos advenha uma causa
de sofrimento ou de contrariedade, sobreponde-vos a ela, e, quando houverdes
conseguido dominar os ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero,
dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: “Fui o mais forte.”
Bem-aventurados os aflitos
pode então traduzir-se assim: Bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua
fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque
terão centuplicada a alegria que lhes falta na Terra, porque depois do labor
virá o repouso. Lacordaire -Havre, 1863.
01/02/2015
A VERDADEIRA PROPRIEDADE
O homem só possui
em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. Do que encontra
ao chegar e deixa ao partir goza ele enquanto aqui permanece. Forçado, porém,
que é a abandonar tudo isso, não tem das suas
riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que
ele possui? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma: a
inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais. Isso o que ele traz e
leva consigo, o que ninguém lhe pode arrebatar, o que lhe será de muito mais utilidade no outro mundo do que neste.
Depende dele ser mais rico ao partir do que ao chegar, visto como, do que tiver
adquirido em bem, resultará a sua posição futura.
Quando alguém vai a um país distante, constitui a sua bagagem de
objetos utilizáveis nesse país; não se preocupa com os que ali lhe seriam
inúteis. Procedei do mesmo modo com relação à vida futura; aprovisionai-vos de
tudo o de que lá vos possais servir.
Ao viajante que chega a um albergue, bom alojamento é
dado, se o pode pagar. A outro, de parcos recursos, toca um menos agradável.
Quanto ao que nada tenha de seu, vai dormir numa enxerga. O mesmo sucede ao
homem, à sua chegada no mundo dos Espíritos: depende dos seus haveres o lugar
para onde vá. Não será, todavia, com o seu ouro que ele o pagará. Ninguém lhe
perguntará: Quanto tinhas na Terra? Que posição ocupavas? Eras príncipe ou
operário? Perguntar-lhe-ão: Que trazes contigo? Não se
lhe avaliarão os bens, nem os títulos, mas a soma das virtudes que possua. Ora,
sob esse aspecto, pode o operário ser mais rico do que o príncipe. Em vão
alegará que antes de partir da Terra pagou a peso de ouro a sua entrada no
outro mundo.
Responder-lhe-ão: Os lugares aqui não se compram: conquistam-se
por meio da prática do bem. Com a moeda terrestre, hás podido comprar campos,
casas, palácios; aqui, tudo se paga com as qualidades da alma. És rico dessas qualidades?
Sê bem-vindo e vai para um dos lugares da primeira categoria, onde te esperam
todas as venturas. És pobre delas? Vai para um dos da última, onde serás
tratado de acordo com os teus haveres.
Pascal - Genebra,
1860.
30/01/2015
A FÉ HUMANA E A DIVINA
No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos
futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas
depositadas em gérmen no seu íntimo, a princípio em
estado latente, e que lhe cumpre fazer que desabrochem e
cresçam pela ação da sua vontade.
Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo
lado religioso, porque o Cristo a exalçou como poderosa
alavanca e porque o têm considerado apenas como chefe de
uma religião. Entretanto, o Cristo, que operou milagres materiais,
mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o
homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza
de que essa vontade pode obter satisfação. Também os
apóstolos não operaram milagres, seguindo-lhe o exemplo?
Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas
causas os homens de então desconheciam, mas que, hoje,
em grande parte se explicam e que pelo estudo do
Espiritismo e do Magnetismo se tornarão completamente
compreensíveis?
A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas
faculdades à satisfação das necessidades terrenas, ou das
suas aspirações celestiais e futuras. O homem de gênio, que
se lança à realização de algum grande empreendimento,
triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e há de chegar
ao fim colimado, certeza que lhe faculta imensa força. O
homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja
encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na
sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária,
e ainda aí se operam milagres de caridade, de
devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus
pendores que se não chegue a vencer.
O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da
fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses
fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.
Repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnados
se achassem bem persuadidos da força que em si trazem, e
se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam
capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios
e que, no entanto, não passa de um desenvolvimento
das faculdades humanas.
Um Espírito Protetor. (Paris,1863.)
29/01/2015
A VIRTUDE
A virtude, no mais
alto grau, é o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o
homem de bem.
Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são
qualidades do homem virtuoso. Infelizmente, quase sempre as acompanham pequenas
enfermidades morais que as desornam e atenuam. Não é virtuoso aquele que faz
ostentação
da sua virtude, pois que lhe falta a qualidade principal:
a modéstia, e tem o vício que mais se lhe opõe: o orgulho.
A virtude, verdadeiramente digna desse nome, não gosta de
estadear-se. Adivinham-na; ela, porém, se oculta na obscuridade e foge à
admiração das massas. S. Vicente de Paulo era virtuoso; eram virtuosos o digno Cura
d’Ars e muitos outros quase desconhecidos do mundo, mas conhecidos de Deus.
Todos esses homens de bem ignoravam que fossem virtuosos; deixavam-se ir ao
sabor de suas santas inspirações e praticavam o bem com desinteresse, completo e
inteiro esquecimento de si mesmos.
À virtude assim compreendida e praticada é que vos convido,
meus filhos; a essa virtude verdadeiramente cristã e verdadeiramente espírita é
que vos concito a consagrar-vos.
Afastai, porém, de vossos corações tudo o que seja
orgulho, vaidade, amor-próprio, que sempre desadornam as mais belas qualidades.
Não imiteis o homem que se apresenta como modelo e trombeteia, ele próprio,
suas qualidades a todos os ouvidos complacentes. A virtude que assim se ostenta
esconde muitas vezes uma imensidade de pequenas torpezas e de odiosas
covardias.
Em princípio, o homem que se exalça, que ergue uma estátua
à sua própria virtude, anula, por esse simples fato, todo mérito real que possa
ter. Entretanto, que direi daquele cujo único valor consiste em parecer o que
não é? Admito de boa mente que o homem que pratica o bem experimenta uma
satisfação íntima em seu coração; mas, desde que tal satisfação se exteriorize,
para colher elogios, degenera em amor-próprio.
Ó vós todos a quem a fé espírita aqueceu com seus raios,
e que sabeis quão longe da perfeição está o homem, jamais esbarreis em
semelhante escolho. A virtude é uma graça que desejo a todos os espíritas
sinceros. Contudo, dir-lhes-ei: Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita
com orgulho. Pelo orgulho é que as Humanidades sucessivamente se hão perdido;
pela humildade é que um dia elas se hão de redimir.
François-Nicolas-Madeleine - Paris, 1863.
28/01/2015
O DEVER
O dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma,
primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele
deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados. Quero
aqui
falar apenas do dever moral e não do dever que as
profissões
impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se,
por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm
testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas. O
dever íntimo do homem fica entregue ao seu
livre-arbítrio.
O aguilhão da consciência, guardião da probidade
interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante
dos sofismas da paixão. Fielmente observado,
o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém,
com exatidão? Onde começa ele? onde termina? O dever principia, para cada um de
vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do
vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha
com relação a vós.
Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou
grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de
que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem,
infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério.
A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus,
que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não
pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.
O dever é o resumo prático de todas as especulações morais;
é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é austero e brando;
pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, conserva-se inflexível diante
das suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as
criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e
escravo em causa própria.
O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como
de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a
vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à
alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada
um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da
criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não
aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a
seus próprios olhos.
Lázaro - Paris, 1863
SERÁ LÍCITO ABREVIAR A VIDA DE UM DOENTE
QUE SOFRA SEM ESPERANÇA DE CURA?
28. Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos.
Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-
se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-
-lhe o fim?
Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de
Deus? Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso,
para daí o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar
idéias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao
último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com
segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência
não se terá enganado nunca em suas previsões?
Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar
desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança
fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a
possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente,
no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-
se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois
bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de
grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Es-
pírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos
lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.
O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma
conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o
espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo,
conhece o valor de um último pensamento. Minorai
os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-
vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque
esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro.
S. Luís -Paris, 1860.
15/01/2015
FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO
Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação,
estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à
sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem
praticado
acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste,
a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a
Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos
eleitos, e,
na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem
Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê-los-eis pelo
perfume de caridade que espalham em torno de si. Nada exprime com mais exatidão
o pensamento de
Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa
máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem,
do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro
Cristianismo.
Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai-vos,
assim, meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as consequências, a
descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas acções
ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que
pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude
negativa não basta: É necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem,
mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar
o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação.
Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis
gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser
salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz
melhores cristãos.
Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos,
observando- vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro
cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade
são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam. – Paulo, o Apóstolo
– Paris/ 1860
O dever é a
obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para
com os outros. O dever é a lei da vida. Com ele deparamos nas mais ínfimas
particularidades, como nos atos mais elevados. Quero aqui
falar apenas do dever moral e não do dever que as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de cumprir-se,
por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do coração. Não têm
testemunhas as suas
vitórias e não estão sujeitas à repressão suas derrotas.
O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio.
O aguilhão da consciência, guardião da probidade
interior, o adverte e sustenta; mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante
dos sofismas da paixão. Fielmente observado,
o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém,
com exatidão? Onde começa ele? onde termina? O dever principia, para cada um de
vós, exatamente no ponto em
que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso
próximo;acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.
Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou
grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de
que cada um julgue em sã consciência
o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vários
nas suas expressões, não é o mesmo o critério.
A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus,
que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não
pratiquem o mal, alegando ignorância
de seus efeitos. O dever é o resumo prático de todas as
especulações morais; é uma bravura da alma que enfrenta as angústias da luta; é
austero e brando; pronto a dobrar-se às mais
diversas complicações, conserva-se inflexível diante das
suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as
criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e
escravo em causa própria.
O dever é o mais belo laurel da razão; descende desta como
de sua mãe o filho. O homem tem de amar o dever, não porque preserve de males a
vida, males aos quais a Humanidade não pode subtrair-se, mas porque confere à alma
o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais elevada forma, em cada
um dos estágios superiores da Humanidade. Jamais cessa a obrigação moral da
criatura para com Deus. Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não
aceita esboços imperfeitos, porque quer que a beleza da sua obra resplandeça a
seus próprios olhos. – Lázaro. (Paris, 1863.)
Dia: 10/12/2014
Meus caros amigos, todos os dias ouço entre vós dizerem:
“Sou pobre, não posso fazer a caridade”, e todos os
dias vejo que faltais com a indulgência aos vossos
semelhantes.
Nada lhes perdoais e vos arvorais em juízes muitas
vezes severos, sem quererdes saber se ficaríeis
satisfeitos
que do mesmo modo procedessem convosco. Não é
também caridade a indulgência? Vós, que apenas podeis
fazer a caridade praticando a indulgência, fazei-a assim,
mas fazei-a largamente. Pelo que toca à caridade
material,
vou contar-vos uma história do outro mundo.
Dois homens acabavam de morrer. Dissera Deus: Enquanto
esses dois homens viverem, deitar-se-ão em sacos
diferentes as boas ações de cada um deles, para que por
ocasião de sua morte sejam pesadas. Quando ambos chegaram
aos últimos momentos, mandou Deus que lhe trouxessem
os dois sacos. Um estava cheio, volumoso, atochado, e
nele ressoava o metal que o enchia; o outro era pequenino
e
tão vazio que se podiam contar as moedas que continha.
Este o meu, disse um, reconheço-o; fui rico e dei muito.
Este o meu, disse o outro, sempre fui pobre, oh! quase
nada
tinha para repartir. Mas, oh! surpresa! postos na balança
os dois sacos, o mais volumoso se revelou leve, mostrando-
-se pesado o outro, tanto que fez se elevasse muito o
primeiro
no prato da balança. Deus, então, disse ao rico: deste
muito, é certo, mas deste por ostentação e para que o teu
nome figurasse em todos os templos do orgulho e, ao
demais,
dando, de nada te privaste. Vai para a esquerda e fica
satisfeito com o te serem as tuas esmolas contadas por
qualquer coisa. Depois, disse ao pobre: Tu deste pouco,
meu amigo; mas, cada uma das moedas que estão nesta
balança representa uma privação que te impuseste; não
deste esmolas, entretanto, praticaste a caridade, e, o
que
vale muito mais, fizeste a caridade naturalmente, sem
cogitar
de que te fosse levada em conta; foste indulgente; não
te constituíste juiz do teu semelhante; ao contrário,
todas
as suas ações lhe relevaste: passa à direita e vai
receber a
tua recompensa. – Um Espírito protetor. (Lião, 1861.)
DIA -09/12/2014
Várias maneiras há de fazer-se a caridade, que muitos
dentre vós confundem com a esmola. Diferença grande vai,
no entanto, de uma para outra. A esmola, meus amigos, é
algumas vezes útil, porque dá alívio aos pobres; mas é
quase
sempre humilhante, tanto para o que a dá, como para o
que a recebe. A caridade, ao contrário, liga o benfeitor
ao
beneficiado e se disfarça de tantos modos! Pode-se ser
caridoso, mesmo com os parentes e com os amigos, sendo
uns indulgentes para com os outros, perdoando-se
mutuamente
as fraquezas, cuidando não ferir o amor-próprio de
ninguém. Vós, espíritas, podeis sê-lo na vossa maneira de
proceder para com os que não pensam como vós, induzin-
do os menos esclarecidos a crer, mas sem os chocar, sem
investir contra as suas convicções e, sim, atraindo-os
amavelmente
às nossas reuniões, onde poderão ouvir-nos e onde
saberemos descobrir nos seus corações a brecha para neles
penetrarmos. Eis aí um dos aspectos da caridade.
Escutai agora o que é a caridade para com os pobres,
os deserdados deste mundo, mas recompensados de Deus,
se aceitam sem queixumes as suas misérias, o que de vós
depende. Far-me-ei compreender por um exemplo.
Vejo, várias vezes, cada semana, uma reunião de senhoras,
havendo-as de todas as idades. Para nós, como
sabeis, são todas irmãs. Que fazem? Trabalham depressa,
muito depressa; têm ágeis os dedos. Vede como trazem
alegres
os semblantes e como lhes batem em uníssono os corações.
Mas, com que fim trabalham? É que vêem aproximar-
se o inverno que será rude para os lares pobres. As
formigas não puderam juntar durante o estio as provisões
necessárias e a maior parte de suas utilidades está
empenhada.
As pobres mães se inquietam e choram, pensando
nos filhinhos que, durante a estação invernosa, sentirão
frio e fome! Tende paciência, infortunadas mulheres. Deus
inspirou a outras mais aquinhoadas do que vós; elas se
reuniram e estão confeccionando roupinhas; depois, um
destes dias, quando a terra se achar coberta de neve e
vós
vos lamentardes, dizendo: “Deus não é justo”, que é o que
vos sai dos lábios sempre que sofreis, vereis surgir a
filha
de uma dessas boas trabalhadoras que se constituíram
obreiras dos pobres, pois que é para vós que elas
trabalham
assim, e os vossos lamentos se mudarão em bênçãos,
dado que no coração dos infelizes o amor acompanha de
bem perto o ódio.
Como essas trabalhadoras precisam de encorajamento,
vejo chegarem-lhes de todos os lados as comunicações
dos bons Espíritos. Os homens que fazem parte dessa
sociedade
lhes trazem também seu concurso, fazendo-lhes
uma dessas leituras que agradam tanto. E nós, para
recompensarmos
o zelo de todos e de cada um em particular,
prometemos às laboriosas obreiras boa clientela, que lhes
pagará à vista, em bênçãos, única moeda que tem curso no
Céu, garantindo-lhes, além disso, sem receio de errar,
que
essa moeda não lhes faltará. – Cárita. (Lião, 1861.)
DIA:26-11-2014
Chamo-me Caridade; sigo o caminho principal que conduz
a Deus. Acompanhai-me, pois conheço a meta a que
deveis todos visar.
Dei esta manhã o meu giro habitual e, com o coração
amargurado, venho dizer-vos: Oh! meus amigos, que de
misérias, que de lágrimas, quanto tendes de fazer para
secá-
-las todas! Em vão, procurei consolar algumas pobres
mães,
dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! há corações bons que
velam por vós; não sereis abandonadas; paciência! Deus lá
está; sois dele amadas, sois suas eleitas. Elas pareciam
ouvir-me e volviam para o meu lado os olhos arregalados
de espanto; eu lhes lia no semblante que seus corpos,
tiranos
do Espírito, tinham fome e que, se é certo que minhas
palavras lhes serenavam um pouco os corações, não lhes
reconfortavam os estômagos. Repetia-lhes: Coragem!
Coragem!
Então, uma pobre mãe, ainda muito moça, que
amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e a
estendeu
no espaço vazio, como a pedir-me que protegesse
aquele entezinho que só encontrava, num seio estéril,
insuficiente
alimentação.
Alhures vi, meus amigos, pobres velhos sem trabalho
e, em conseqüência, sem abrigo, presas de todos os
sofrimentos
da penúria e, envergonhados de sua miséria, sem
ousarem, eles que nunca mendigaram, implorar a piedade
dos transeuntes. Com o coração túmido de compaixão, eu,
que nada tenho, me fiz mendiga para eles e vou, por toda
a
parte, estimular a beneficência, inspirar bons
pensamentos
aos corações generosos e compassivos. Por isso é que
aqui venho, meus amigos, e vos digo: Há por aí
desgraçados,
em cujas choupanas falta o pão, os fogões se acham
sem lume e os leitos sem cobertas. Não vos digo o que
deveis
fazer; deixo aos vossos bons corações a iniciativa. Se eu
vos
ditasse o proceder, nenhum mérito vos traria a vossa boa
ação. Digo-vos apenas: Sou a caridade e vos estendo as
mãos pelos vossos irmãos que sofrem.
Mas, se peço, também dou e dou muito. Convido-vos
para um grande banquete e forneço a árvore onde todos
vos saciareis! Vede quanto é bela, como está carregada de
flores e de frutos! Ide, ide, colhei, apanhai todos os
frutos
dessa magnificente árvore que se chama a beneficência. No
lugar dos ramos que lhe tirardes, atarei todas as boas
ações
que praticardes e levarei a árvore a Deus, que a
carregará
de novo, porquanto a beneficência é inexaurível.
Acompanhai-
me, pois, meus amigos, a fim de que eu vos conte
entre os que se arrolam sob a minha bandeira. Nada
temais;
eu vos conduzirei pelo caminho da salvação, porque sou –
a
Caridade. – Cárita, martirizada em Roma. (Lião, 1861.)
DIA -25-11-2014
MUNDOS DE EXPIAÇÕES E DE PROVAS
Que vos direi dos mundos de expiações que já não saibais, pois basta observeis o em que habitais? A
superioridade da inteligência, em grande número dos seus habitantes, indica que a Terra não é um mundo primitivo, destinado à encarnação dos Espíritos que acabaram de sair das mãos do Criador. As qualidades inatas que eles trazem consigo constituem a prova de que já viveram e realizaram
certo progresso. Mas, também, os numerosos vícios a que se mostram propensos constituem o índice de grande
imperfeição moral. Por isso os colocou Deus num mundo ingrato, para expiarem aí suas faltas, mediante penoso trabalho e misérias da vida, até que hajam merecido ascender
a um planeta mais ditoso.
Entretanto, nem todos os Espíritos que encarnam na Terra vão para aí em expiação. As raças a que chamais selvagens são formadas de Espíritos que apenas saíram da infância e que na Terra se acham, por assim dizer, em
curso de educação, para se desenvolverem pelo contacto com
Espíritos mais adiantados. Vêm depois as raças
semi civilizadas, constituídas desses mesmos Espíritos em via de progresso.
São elas, de certo modo, raças indígenas da Terra, que aí se elevaram pouco a pouco em longos períodos seculares,
algumas das quais hão podido chegar ao aperfeiçoamento intelectual dos povos mais esclarecidos.
Os Espíritos em expiação, se nos podemos exprimir dessa forma, são exóticos, na Terra; já viveram noutros mundos, donde foram excluídos em consequência da sua obstinação
no mal e por se haverem constituído, em tais mundos, causa de perturbação para os bons. Tiveram de ser
degredados, por algum tempo, para o meio de Espíritos mais atrasados,
com a missão de fazer que estes últimos avançassem, pois que levam consigo inteligências desenvolvidas e o gérmen dos conhecimentos que adquiriram. Daí vem que os Espíritos em punição se encontram no seio das raças mais inteligentes. Por isso mesmo, para essas raças é que
de mais amargor se revestem os infortúnios da vida. É que há nelas mais sensibilidade, sendo, portanto, mais
provadas pelas contrariedades e desgostos do que as raças
primitivas,
cujo senso moral se acha mais embotado.
A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios, cuja variedade é infinita, mas
revelando todos, como caráter comum, o servirem de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos
homens e com a inclemência da Natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, em sua bondade, faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito. – Santo Agostinho. (Paris, 1862.)
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